Antes de mais nada, para que as pessoas entendam sobre esta história que vou
relatar aqui, é necessário que leiam a primeira história, ou seja, Apartamento 602 (parte I).
Como a chave do apartamento 602 estava na portaria, após ter sido feito os
reparos necessários e o filho do porteiro sabia disto, ele resolveu desafiar os
demais adolescentes do prédio, o qual todos já sabiam o que ocorria com o
referido apartamento. O desafio era: quem teria coragem de entrar e ficar
algumas horas da noite dentro do apartamento???
Apenas três corajosos jovens resolveram então desafiar o sobrenatural e passar a
noite lá dentro, para espanto do restante do grupo de adolescentes
irresponsáveis. Irresponsáveis porque primeiro deram força para os outros
adolescentes entrarem em um apartamento que não eram deles. Imagina se o
proprietário soubesse disto? E em segundo lugar: como havia todos esses
fenômenos, sabe-se lá o que não encontrariam...... (este ocorrido, os pais dos
adolescentes só souberam depois, ou seja, no dia seguinte em que já tinha sido
realizada a aposta).
Então, foi feita uma aposta tentadora o qual os demais adolescentes acabaram
arrecadando R$ 285,00. Para aqueles (o prêmio seria dividido) ou aquele (levaria
o prêmio todo) que conseguisse ficar dentro do apartamento no horário de 23:00 a
01:00 da manhã.
Naquela noite, o filho do porteiro chegou com a chave roubada e apenas três
corajosos adolescentes resolveram adentrar no apartamento e os demais
adolescentes (vários), ficaram lá fora no corredor, na expectativa. Era uma
sexta-feira a noite e para disfarçarem, caso algum morador desconfiasse, ficaram
no corredor com cartas espalhadas no piso, como se estivessem disputando um
campeonato de buraco e outros jogos. Mas a maioria seria apenas expectadoras do
jogo. Mas na verdade o jogo era "quem teria coragem de passar algumas horas da
noite no apartamento 602?".
Então, depois de tudo acertado, o filho do porteiro abriu a porta para eles
entrarem e disse boa sorte com sorriso sarcástico (segundo relato do filho de um
vizinho meu).
O que se passou após isto foi o seguinte: os três corajosos rapazes levavam
consigo basicamente, lanternas, biscoitos, água, latinhas de refrigerantes em
uma mochila. E uma vez lá dentro, após passar apenas uns três minutos, um dos
rapazes, logo de cara tropeçou em um tapete da sala meio levantado e caiu no
chão quebrando parte do dente. Dali ele já ficou desmotivado para continuar
aquela brincadeira e disse que sairia dali porque também estava sangrando, pois
sentia o gosto de sangue na boca.
Quando o primeiro corajoso adolescente saiu fechando a porta atrás dele, estava
sangrando na boca e os demais adolescentes lá fora entreolharam-se e ficaram
boquiabertos com a cena, pois o rapaz nesse momento sangrava muito e seu lábio
começava a ficar inchado também. Todos começaram a ficar receosos com os dois
outros adolescentes que continuavam lá dentro.
OBS: O que passo a relatar foi o que eles contaram para o restante do grupo e
que foi posteriormente passado para mim.
Os dois outros ficaram um pouco na sala. Iluminando cada ponto do cômodo para
conhecer melhor o local. Foram então percorrer os quartos. O primeiro quarto,
depois o segundo, sempre com o cuidado de não quebrarem ou modificarem alguma
coisa. Afinal de contas, aquilo era invasão de domicílio. E isto é crime.
Quando estavam ainda no segundo quarto, um deles parou e ficou em silêncio e o
outro sem entender nada perguntou o que era? E o outro disse que estava ouvindo
choro e o outro dizia que não ouvia nada. E seguiu em frente e o outro para não
ficar sozinho seguiu ele.
Então foram ao terceiro quarto e ficaram um pouco ali, tentando disfarçar o
nervosismo, vendo as horas no relógio de pulso. Teriam que ficar pelo menos até
uma hora da manhã. E quando entraram era exatamente 23:00. Pois a aposta era que
quando desse meia noite. (a hora das assombrações que nem os filmes de terror),
eles estivessem lá já há algum tempo. Não poderiam levar rádio, etc... nada que
pudesse distrair a atenção.
Estavam ainda no último quarto, quando ouviram barulho de água e foram um junto
do outro verificar o banheiro e chegando lá nada encontraram de anormal. Sempre
iluminando com as lanternas. Foram então no outro banheiro e também nada de
anormal. Somente tomaram um grande susto com o espelho do banheiro, vendo suas
próprias imagens e começaram a rir. Nesse momento eles, agora não só um deles,
os dois ouviram o choro novamente e ficaram se concentrando naquele barulho de
choro. E após um tempo houve uma forte pancada na porta do banheiro, fazendo os
dois correrem para a sala e ficaram ali ofegantes e doidos para a hora passar
mais rápido.
Para se distrair, então foram até a cozinha e então resolveram comer uns
biscoitos que haviam trazido na mochila. Mas tomando o cuidado de não deixar
nada no apartamento, nem sequer farelos no chão para não dar nenhum problema no
futuro.
Acabaram de comer e tomar refrigerante e então um dos adolescentes resolveu
tentar ligar a chave geral do apartamento que ficava em uma parede que separava
justamente a cozinha da área de serviço. E conseguiram ligar a luz, então
desligaram as lanternas e ficaram aliviados com a luz do apartamento iluminando
tudo, não dando mais aquele aspecto fantasmagórico. Foram "fuxicar" o quarto de
empregada, que segundo eles mais tarde, falaram que estava cheio de bagulhos,
trastes, etc...
Estavam ainda na área de serviço quando a luz acabou, tudo ficou no escuro, o
sangue de ambos gelou. Foram tateando para achar as lanternas. Que depois de
muito procurar e suando frio, estavam dentro da pia, por incrível que pareça.
As baterias das lanternas pareciam que estavam gastando muito rapidamente, pois
a iluminação já estava ficando fraca. E as pilhas eram novinhas, segundo eles.
Estavam ainda verificando as lanternas fracas, quando um deles recebeu uma
latinha de refrigerante ainda cheia no pescoço que bateu no chão e começou a
esguichar um pouco do refrigerante. Eles, neste momento, já estavam por demais
apavorados, mas resolveram recolher a latinha o mais rápido possível e limparam
com um casaco o chão que tinha ficado somente um pouco molhado de refrigerante,
para não deixar vestígios.
Já estavam a essa altura bastante apavorados para continuar e pensando inclusive
em desistir, pois os ânimos de ambos já tinham ido por água abaixo logo no
início, ao verem o amigo deles sair do apartamento machucado e ensangüentado,
após isso começaram a ficar receosos bastante do que pudesse vir. E o choro, as
luzes, a latinha sendo jogada do nada, a pancada forte na porta do banheiro, as
lanternas ficando fracas. Começaram a ficar com os ânimos em frangalhos. Foram
para sala.
Começaram a ouvir barulho de chaves balançando. Ficaram com os cabelos todos em
pé. O barulho parecia vir dos quartos, mas já não tinham coragem para mais nada,
diante dos acontecimentos. E o barulho de chaves balançando continuou. Parando
dali a algum tempo. Eles falaram que ficavam dizendo "isso não estava
acontecendo, isto não estava acontecendo" para tentar agüentar a pressão e
ficavam pensando no dinheiro, este era o fator principal de não terem saído
porta fora e também para não darem o braço a torcer, porque sabiam que tinha uma
porção de gente lá fora testando a coragem deles.
Foi quando um dos dois adolescentes resolveu se esticar no sofá grande que havia
na sala, mesmo empoeirado. Acabou por receber um objeto bem no meio da testa.
Quando iluminaram para ver o que havia acertado um deles, viram que se tratava
de um balde de gelo de metal pesado. Não sabiam sequer de onde havia vindo. Mas
não quiseram saber de mais nada. Saíram correndo até a porta principal que
estava destrancada, justamente para o caso de se desistissem não haver problema
nenhum.
Ao sair um estava com a testa ferida, não chegava a sangrar, mas tinha um corte
na testa, causada pelo balde de gelo, o outro já estava com uma crise alérgica
grande e os olhos esbugalhados.
Acabaram por perder a aposta, porque não permaneceram dentro do apartamento
sequer duas horas. Tendo saído exatamente as 24:08 horas. Segundo os outros que
estavam marcando no relógio do lado de fora. E pelo combinado, teriam que ficar
pelo menos até 01:00 da manhã.
Após isto, os outros moradores ficaram com bronca do filho do porteiro que expôs
os outros ao perigo. Levou uma baita bronca e sermão do pai. A chave, já
guardada com segurança, foi pega pelo sobrinho do alemão dias depois, sem que
ele soubesse o que havia ocorrido, pois jamais ele sobe no apartamento e ninguém
falou para ele o que havia se passado.
Marco Aurélio - Rio de Janeiro - RJ